Hiram Abif ou Adonhiram?
Dia 2 da Série: O Diário de Adonhiram
Queridos leitores,
Dando continuidade à nossa jornada pelos mistérios do Rito Adonhiramita, trago hoje um dos temas mais intrigantes e debatidos dentro da maçonaria: a confusão histórica entre Hiram Abif e Adonhiram, que é frequentemente citada como uma das razões para o declínio do rito em várias partes do mundo.
Uma característica fascinante do Rito Adonhiramita é o seu traço franco-lusitano em sua criação, algo que ressoa profundamente comigo. Afinal, São Luís, a única capital brasileira fundada pelos franceses, ainda carrega um espírito que nos convida a refletir sobre como poderíamos valorizar mais essa essência histórica.
O nome Adonhiram deriva de dois vocábulos hebraicos: Adon e Hiram. Juntos, significam "mestre exaltado". Enquanto Adon é um termo associado a "Senhor" ou "Deus", Hiram se refere ao mestre artesão e arquiteto do Templo de Salomão. Essa fusão de significados atribui a Adonhiram um simbolismo profundo, elevando-o como um exemplo de sabedoria, virtude e habilidade — um verdadeiro construtor do templo material e espiritual.
No entanto, em 1744, Louis Travenol, sob o pseudônimo de Léonard Gabanon, publicou o Catéchisme des Francs Maçons ou Le Secret des Francs Maçons. Nesse texto, ele confundiu as histórias de Adonhiram e Hiram Abif, misturando suas origens e criando uma confusão que reverberou ao longo dos anos, gerando debates dentro da maçonaria.
A principal referência para Adonhiram surge com a obra Recueil précieux de La Maçonnerie Adonhiramite, publicada em 1782 por Louis Guillermain de Saint-Victor. Essa coletânea, que aborda os quatro primeiros graus do rito, foi complementada em 1785 por outra obra dedicada aos Altos Graus, que inicialmente somavam 12 graus.
Embora o Rito Adonhiramita tenha desaparecido em muitos lugares, ele sobreviveu no Brasil e foi retomado em Portugal em 2015. Mais do que um legado histórico, o rito é uma fonte de insights sobre as tradições, simbolismos e psicologia que moldaram a maçonaria ao longo dos séculos.
A crítica de Alec Mellor, que sugere que "todo um Rito maçônico possa ter se constituído e prosperado durante longos anos é, nesse sentido, significativo", deve ser analisada com cautela. Como destaca o Irmão Nicola Aslan, "Nem um erro histórico nem um contra-senso inicial podem inutilizar um rito, que sempre contém a doutrina, as tradições e os usos e costumes da Maçonaria."
Ao explorarmos a figura de Adonhiram, celebramos sua importância como símbolo central do Rito Adonhiramita. Mesmo que sua história seja frequentemente confundida com a de Hiram Abif, sua essência permanece como um pilar de sabedoria e construção — um convite eterno para erguer não apenas templos de pedra, mas também os templos de nossa alma.
A jornada continua.
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